Controle de Gastos

Outro dia, sentado à mesa da sala com minha esposa, estávamos tentando chegar a um acordo sobre os gastos da casa. Do jeito que as coisas iam não dava para continuar.

Nessas conversas, o importante é atingir o consenso, onde os dois tem que reconhecer os erros, abrir mão de algumas regalias e se esforçar um pouco para colocar as contas nos eixos. Lógico, sem perder a individualidade.

Assim, de algumas coisas eu não aceitaria me desfazer: TV à cabo em HD com o pay-per-view completo do Brasileirão; pelo menos duas grades de breja e quatro quilos de carne, por semana, para queimar no domingo e relaxar com a galera; lavagem do carro duas vezes por semana, afinal, meu neném precisa de um cuidado; meu xbox 360 e meus 153 jogos; minha coleção de 374 revistas em quadrinhos.

Outras questões tive que ceder um pouco: fiquei sem coraçãozinho do churrasco, o carro vou lavar duas vezes, porque antes eram três. Ah, também aceitei ficar sem o abacate. Eu costumava comprar um por semana, mas ele está caro demais.

Minha mulher também teve que mudar de hábitos. Eu não podia ser o único a ter restrições em casa, lógico. Assim, realizamos pequenas alterações para ela: unha não precisava ser feita fora de casa, eu mesmo podia fazer durante o jogo, era fácil; luzes no cabelo eliminamos, eu sempre a preferi com o cabelo castanho mesmo e para convence-la disse que loira ela parecia mulher da vida; ela queria comprar sapatos, ao invés disso, mandei para o sapateiro e os três pares dela ficaram novinhos por R$ 20,00; bolsa era luxo, cortamos a maquiagem e sobrou um espação na antiga que ela tem; os óculos escuros que ela desejava para o verão era uma fortuna, fui no camelô e comprei um bala com R$ 12,00.

Também meu filho entrou na dança da economia. Criança tem que aprender a poupar cedo: o pula-pula que ele ia uma vez por semana custava R$ 2,00, tirei e passamos a pular no sofá mesmo; chocolate não precisava ser do melhor, já que criança não tem paladar bom, assim, compramos aquele de guarda-chuva sem marca mesmo; ele adorava halls, mas como é caro, com o valor de uma dessas balas caríssimas comprei dois pacotes de bala de coco queimado, que é a mesma coisa.

Dessa forma, todo mundo abriu mão de um pedaço do seu luxo. Não sei porquê minha mulher não ficou satisfeita. É incrível como mulher cria caso por nada.

No sábado, minha esposa preparou a lista de compras e eu fui ao supermercado. Fiz tudo normalmente; gosto de supermercado; é bom andar pelos corredores cheios de produtos perfeitamente arrumados. Aquilo tem algo de poético, hipnotizador.

Chegando em casa encontrei minha mulher com cara de satisfeita.

Perguntei o que estava acontecendo e ela me respondeu que tínhamos que cortar parte das compras do supermercado. Disse ter me seguido e tirado uma foto do carrinho.

Olhei para o carrinho abarrotado de compras, virei meu olhar para a lista feita por minha mulher.

Realmente aquilo não podia continuar. Olhando para a situação disse a única coisa lógica para o caso: temos que reduzir essa lista.

Tá doido! Mulher gasta demais!